Com a frase emblemática do escritor Jack Kerouac, popularizada e imortalizada pelo poeta e compositor Cazuza na canção tributo, iniciamos a séria de reflexões poéticas, em homenagem às mães, cujo amor e cuidados, são essenciais à todas espécies, e a literatura tem retratado essa relação sui generis, ao longo de sua história.
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Mãe
Minha mãe nunca tocou piano no caos
nunca viu a estrela chorar rosa
e nem nunca padeceu num paraíso
fazia o que lhe cabia e falava do ‘caderninho de Deus’
exemplos de retidão
segurava a bronca de seu karma
e acobertava o frio
que rondava meu mundo de menino
naqueles setenta de mordaça-choque-e-fogo
e canto em sufoco…
me ensinou a ler e a rezar
prometia um brinquedo no aniversário
e garantia que no Natal, se eu merecesse, o velhinho traria
e assim era
a poesia não sabia, e sem saber, a trazia nos evangelhos
e na própria infância reinventada
nos campos fartos e morros frios de sua mítica Minas natal
e nas histórias fantásticas de seus pitorescos seres
me desanuviava de pensar no começo do mundo
pois disse um anjo que é mais fácil contar todas as gotas do oceano…
e sempre acendia uma vela pro ‘de guarda’ de cada um
nesse domingo de maio
penso em meu anjo de carne
estremeço ao sentir seu abraço
invisível sustento
o amor exemplar
a dádiva mãe
a nos orientar eterna
nos rumos do seu próprio mistério.
Gustavo Terra
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Para minha Mãe
Mãe
quanto sofrimento
para que eu nascesse.
Mãe,
me alimentaste
com o colostro
de tua alma.
Mãe,
tu morrias
quando eu adoecia
e ressuscitavas
quando eu ficava bem.
Mãe,
baluarte quando
eu fraquejava.
Mãe,
me deste
asas para voar
Mãe
Fizeste que eu acreditasse
em meus sonhos,
pois eles acontecem.
Mãe,
teu lema
busco seguir
respeito-amor-lealdade.
Mãe,
nunca um lamento,
sempre uma palavra
de esperança.
Mãe,
morreste em meus braços,
sorrindo antes
de cerrar teus verdes olhos.
Mãe,
e a saudade,
não queria
que doesse tanto.
Mãe,
a vida é curta
para tanto amor.
e longa para te encontrar.
Mãe,
internalizada
em mim,
comemoraremos
o nosso dia.
Themis Groisman Lopes
*
Para ser mãe
é preciso sonhar sempre um pouco mais alto
é preciso estar acima dos gestos
semear risos e colher festa
é preciso enfrentar o que nunca foi dito
e nascer e nascer a cada dia
é preciso aprender o amor que te espera
e colher a bênção de Deus naquelas mãozinhas pequenas
é preciso acreditar que a vida é milagre
que o tempo é ligeiro
que a felicidade é fato
é preciso olhar nos olhos dele que chega
e sorver toda a força de que agora precisa
porque para ser mãe é preciso aceitar
que sua paz será feita de choros noturnos
e bibelôs quebrados.
– Adriana Aneli
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Canção Póstuma N° 2
Subtraí os desassossegos do mundo
para que pudesses sonhar perfumes
Mamãe. ..mamãe…dá a mão pro seu benzinho
O que me coube transbordou
em afeto, luz, perdão
amor incondicional…
Mamãe…mamãe. ..posso ir?
Quantas auroras?
Mãe deixa eu te abraçar
antes da exorbitante e indizível
eternidade
dissipámo-nos
sopro dissoluto deste amanhecer.
Jose Couto
*
mãe
é
mão
Chris Herrmann
*
___ MAIO ___
Maio domingou em luz
E um ventinho brando
Salpicou perfumes de Mãe e voz
Pelos corredores da Vida,
Pelos quartos do Mundo,
Pela sala do Tempo;
Maio domingou em sol
E o fogão de lenha
Borbulhou delícias de mesa e paz
Pela parentada que chegou,
Pelos filhos todos,
Pelos filhos dos filhos;
É a Fada
Confeitando carinhos
Cantarolando risos e
Equalizando medos.
Maio amanheceu em cantos
E Domingou em Mãe,
Mater,
Mother,
Madre,
Madrecita,
Mãe de Nós
Que se traduz em verso,
Em todas as línguas do homem:
Gênese do Universo!
Os significados de Mãe
Não cabem na extensão de um só diaEnunciaram
os oráculos.
O Tempo, então,
Compreensivo,
Inventou os Séculos!
Wander Porto
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Para Sempre
Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
É tempo sem hora
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba
Veludo escondido
Na pele enrugada
Água pura, ar puro
Puro pensamento
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
É eternidade
Por que Deus se lembra
– Mistério profundo –
De tirá-la um dia?
Fosse eu rei do mundo
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora
Será pequenino
Feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
