XV

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Só Letras.

*
Pouso…
Onisciente
é o
silêncio

re(pouso)
nas palavras
se eu quebro:
Soletro.

*

Elke Lubitz

*
XVI

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O ÚLTIMO DIA

No último dia da minha vida
quero acordar contente,
quero beber um café quentinho,
quero ir à missa bem cedinho,
quero rezar bastante
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero ligar para os amigos,
quero chorar de alegria,
quero comer comida fria,
quero falar com meus filhos
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero jogar bola,
quero voltar à escola,
quero dar bom dia ao desconhecido,
quero esquecer que tenho sofrido
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero comer macarrão,
quero repartir o pão,
quero contar um segredo,
não quero sentir medo
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero fumar um cigarro,
quero beber uma cerveja gelada,
quero ver revista de mulher pelada,
não quero deter o escarro
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero voltar pra minha cidade,
quero ocultar minha vaidade,
quero nadar no rio,
não quero sentir frio
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero ir a um baile a fantasia,
quero me vestir de alegria,
quero me banhar de verde,
não quero sentir sede
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero beijar o meu amor,
quero ficar desperto,
quero estar aberto e
não quero sentir dor
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero ler um livro todinho,
quero contemplar o caminho,
quero encher a taça vazia,
não quero escrever poesia
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero pedir perdão,
quero abraçar meu irmão,
quero ter os olhos bem abertos,
não quero ver a ausência de perto
no último dia da minha vida.

No último dia da minha vida
quero ver a minha avozinha de branco
qual arcanjo num túnel de luz anunciando:
“vem logo homem apaixonado,
vem feliz e vem cantando
vem que Nosso Senhor está te esperando”.

Luiz Alexandre Cruz Ferreira
*

XVII

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.pedra-sabão

escrevo no peito o vento que passa
o sol a vidraça a chuva a neblina
escrevo no peito o doce a cachaça
o queijo a coalhada o mapa de minas

escrevo no peito as ruas estradas
as flores a praça o laço de fita
escrevo no peito a tarde a alvorada
a lua as estrelas as caturritas

escrevo no peito a terra um jazigo
o chão a florada a serra o jardim
escrevo no peito opalas sem fim

a mãe meus irmãos as filhas o amigo
o cheiro os costumes a bruma a brisa
depois eu me abraço e fecho a camisa

Líria Porto
*
XVIII
Desordens do tempo

E se o teu argumento,
Misterioso,
Invadisse o pensamento
Balouçando, teimoso
Sob a tênue brisa do vento?

Pensarias inventos
Onde apenas a junção de ideias
Estruturas em ordens
As desordens do tempo?

Mestre Alquimera Grazak (Artur Madruga)

XIX

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pequeno poema para emudecer o amor

vez por outra, cansada de seu desprezo,
eu decido aniquilar, como o Deus insano
faz.
a crueldade necessária para esmagar uma barata,
uma borboleta, seu sorriso deslumbrado de si
é a mesma. o quase esquecimento é que liberta.
pequenas ações, como um bicho fascinado
se aprendesse as letras. eu tão em mim.
pequeno coração cetim punhal foto manchada
de traça. esta terra é nua e devastada. é ermo o amor. vez por outra
o bardo coração não canta. o silêncio gasta-me as horas livres.
só sei de mim, sem a suposição
de semelhanças no fundo.

Fabíola Mazzini Leone

*

XX

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OBSCENO

Alisei um
poema
extenso
com o próprio
corpo.

Depois o enchi
de dobras
para me colher
noutra rua.

Em bis.
Depois
em quatro.

Quase ficou
de oito.
Mas não
me cobriu.

O poema
é assim.
Ora faz luxo
ora pro-lixo.

Ora
de oito
faz
bis-coito!

Consuelo Pereira Rezende Do Nascimento

*
XXI

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Queda-de-braço

meço forças comigo
a mão direita e a esquerda

meu peito e eu
meu coração e eu
a perna direita e a esquerda

meço forças comigo
meus ombros e eu

no escuro no sonho no espelho no bar
homens se encaram e se decifram

meço forças com deus
queda-de-braço
olho na pupila do olho

(Confissões e acerto de contas)

quem chorar primeiro
paga a cerveja dos dois

Rossyr Berny

*

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Sumi-ê

diluo-me no azul egípcio
no cerne não há palavras
só a poética do vazio

não ser me dissolveu em tudo
não percebo e não sou percebida
fluindo sem atritos
desapegada
finalmente encontro

onde se acumulava o pó.

Jose Couto