A escritora brasileira Edla Van Steen conseguiu produzir uma obra de extrema relevância para a literatura brasileira. Através de 39 entrevistas de grandes nomes de autores que, em grande número já não se encontram entre nós, como relata a L&PM no texto de apresentação dos três pockets em que estão divididas. Realizadas entre as décadas de 70 e 80, traz nomes como Vinícius de Morais, Nelson Rodrigues, Autran Dourado, Moacyr Scliar, Plínio Marcos, João Cabral de Melo Neto, Dyonélio Machado, Osman Lins, J.J.Veiga, Mário Quintana, Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Marcos Rey e assim por diante. Para Carlos Reverbel, crítico e historiador, “o trabalho de Edla nessas entrevistas vai ficar pelo que representa como galeria dos mais significativos escritores brasileiros contemporâneos (…). Todo esse pessoal que se interessa por literatura, pelo escritor e sua obra no momento atual do Brasil, será bem servido ao recorrer aos seus livros.”
Entre os que falam sobre o trabalho de Edla, vale destacar, para sermos melhor compreendidos da importância desses três volumes, o que diz Elias José, escritor e professor de literatura: “Edla soube provocar os seus entrevistados, soube arrancar confissões, quer no plano vivencial, quer no literário. Ela não se limita a entrevistas padronizadas, como fazem muitos jornalistas, que desconhecem o entrevistado e seu mundo. Edla leu as obras, pesquisou jornais, revistas e críticas, conviveu com os entrevistados, e o trabalho ganhou sangue, nervos e valor de depoimento vivo e valoroso para os amantes e os estudiosos de nossas letras.
Voltando ao editor cabe referenciar sua fala quando diz que “muitas das revelações são únicas, captadas na sutileza do momento- e por isso inesquecíveis. Edla consegue captar a voz e a força deste grupo, preservando a identidade de cada um, respeitando silêncio e vacilos, conferindo grande naturalidade aos textos, que mais parecem diálogos entre amigos.”
Mário Quintana confessa, em seu depoimento: “Comecei a ser poeta como um cachorro que cai n’água e não sabia que sabia nadar.”
Enquanto Mário Quintana diz “nunca tive a clássica incompreensão da família, de que tanto se vangloriam alguns poetas”, para justificar a inesperada maneira como se deu conta que escrevia boas poesias, Ignácio de Loyola Brandão, autor do romance Zero, proibido pela ditadura militar, ao seu questionado sobre o fato de sua obra ter sido considerada atentatória à moral e aos bons costumes, respondeu:“ Um autor que é considerado por esse regime como atentatório à moral e aos bons costumes primeiro se indaga. Moral e bons costumes de quem? Ao verificar que é a moral e bons costumes deles, se sente aliviado. Porque seria uma cumplicidade infamante estar ao lado dessa moral, que é imoral, e desses bons costumes, que são maus”.
Em resumo, depois das leituras dos 39 autores fica-se com a impressão de que estivemos recebendo grandes e significativas lições sobre a arte de escrever.