É verdade que, ao escrever esta coluna, a interação com algumas pessoas acabam influenciando. Isso acontece por um motivo simples: essas pessoas me fazem pensar. Uma delas é meu colega Marcelo Rios que, no recente encontro entre professores de Geografia da rede municipal, propôs o debate sobre o Escola Sem Partido e as críticas à tese da doutrinação dos estudantes, nas salas de aula. O mais interessante, em sua exposição, foram os debates que gerou e a posição praticamente unânime de rechaço ao movimento. Afinal de contas, como é que pode um movimento desses ganhar tamanha dimensão?

Afinal de contas, cabe ressaltar que as propostas desse movimento, quando materializadas na forma de lei, tem sido inconstitucionais. Isto é, na medida em que a proposta é a de apelar para a neutralidade ou determinar que a posição de professores não pode entrar em embate com as concepções de pais, está em jogo a liberdade de expressão. Na rede municipal nós temos uma lei desse tipo: é aquela que diz que, em tempos de eleições, professores não podem utilizar adesivos como manifestação de apoio a qualquer candidato(a), e quando seus veículos ficam estacionados nos espaços escolares, os mesmos não podem estar adesivados. O mais curioso é que ninguém, em momento algum, rotulou esta mesma lei (inconstitucional) como “lei da mordaça”. E antes que digam que estou defendendo o uso de adesivos: não, não é isso. O que estou explorando são semelhanças.

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Não custa repetir, mas em outra ocasião já argumentei que a doutrinação, em salas de aula, existe mas é cada vez menor. O grande desafio, nos dias de hoje, é fazer a meninada estudar. Quem doutrina nesse país, para valer mesmo, são as seitas (e tomo a liberdade para incluir aqui os partidos políticos), as igrejas e os meios de comunicação. Afinal de contas, se a doutrinação é tão forte e poderosa nas escolas, por que cargas d’água a “revolução socialista” ainda não aconteceu? Se ela realmente existe com a força que lhe atribuem, como é que permanecem existindo os partidos “de direita”?

O surgimento do Escola Sem Partido e as propostas de leis tem raízes mais profundas do que a atual crise política e econômica. Na medida em que questionar a doutrinação nas escolas se transformou em movimento de massas, o resultado foi a disseminação de profunda ignorância. Peguemos um exemplo: o caso de estudante de Santa Catarina que, matriculado no curso de Relações Exteriores, negou-se a escrever um trabalho de filosofia porque era sobre Karl Marx. Em vez disso, o mais interessante é que escreveu uma carta com as justificativas. A principal delas é de ordem ideológica, e a carta finaliza com o “decálogo de Lenin”, reconhecidamente uma fraude (hoax).

Na prática estamos diante da superação do limite do ridículo: não fazer as atividades porque não concorda, não propor alternativas, criticar Paulo Freire ou qualquer proposta pedagógica sem conhecê-la a fundo. Trata-se de profunda ignorância. Afinal de contas, como criticar a “revolução socialista” se não conheço seus argumentos ou ideias? A filosofia marxiana não pode ser reduzida ao comunismo – a crítica à alienação é bastante pertinente, aliás.

No entanto, o Escola Sem Partido oferece uma vantagem que pode ser aproveitada. Ela traz a oportunidade de se discutir sobre a escola, sobre o papel do pedagógico e do que é e o que não é doutrinação. Nesse sentido, o movimento faz aquilo que professores e governantes deveriam, mas não fazem: dá centralidade à educação. Quando o movimento deixa de debater a intrusão da vereança nas escolas municipais, tal como o histórico excelente debatedor Fabiano Soria Vaz ponderou, erra o foco. Aliás, quando um filósofo do naipe do Luiz Felipe Pondé, liberal assumido, critica o movimento, é sinal de que ele cria mais problemas do que traz soluções.

Em tempo (1): como se não bastasse o desastre que é o governo Sartori, a cidade de Cachoeirinha engrossa a lista de quem está pagando os salários parcelados. Considerando que o RS possui 497 municípios e, a partir de 316 municípios que responderam a questionário da Famurs e das respostas de 306 deles, a entidade prevê que 73 deles poderão parcelar o salário dos servidores totalizando 24% deles. Portanto, a colegas servidores o recado é claro: prepare-se. Minha aposta é a de que isso poderá acontecer após o processo eleitoral.

Em tempo (2): hoje me é bastante claro porque, segundo um ex-prefeito, “bom era estar Presidente na Câmara de Vereadores”. Afinal de contas, a farra é gigantesca. Apenas em suas diárias e em seus cargos (incluindo parentes), essas diárias ultrapassam 35 mil reais, e quase ninguém nada fala. Os dados estão no Portal da Transparência. Portanto, a devolução de seiscentos mil reais ao Executivo Municipal para pavimentação de ruas é migalha.

Em tempo (3): pode uma cidade ter tantas pessoas preocupadas com o bem-comum? Efeito da anulação da cláusula de barreira que, na minha opinião, deveria ter sido levada a cabo e extinguido a maioria dos partidos, em 2016 teremos umas dez candidaturas à prefeitura. Mais surreal que isso é a crença de que fazer quinhentos votos “é barbadinha”, além da fala de que quem vencer distribuirá cargos a seus correligionários, assumindo que isso é muito mais importante do que qualquer projeto ou ideia para a cidade. Nessa lógica, os partidos entraram nas discussões pensando em termos de cargos… mas é pura ilusão: a disputa tenderá ser entre caciques e avatares, nos moldes tradicionais e com direito a uma enxurrada de votos em branco e nulos. Até agora as ideias de “mudança”, “renovação”, “inovação” e por aí vai são da boca para fora.

Em tempo (4): mal e mal algumas das convenções partidárias definiram suas candidaturas, e já tem gente por aí resolvendo seus conflitos internos através de socos e tapas. Muita calma nessa hora, pessoal. Que tal focar nas propostas?