Com a obra-prima do mestre Drummond, iniciamos a série ” Declaração de amor: dia dos namorados.”

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Declaração de amor

Minha flor minha flor minha flor. Minha prímula meu pelargônio meu gladíolo meu botão-
de-ouro. Minha peônia. Minha cinerária minha calêndula minha boca-de-leão. Minha gérbera. Minha clívia. Meu cimbídio. Flor flor flor. Floramarílis. Floranêmona. Florazálea. Clematite minha. Catleia defínio estrelítzia. Minha hortensegerânea. Ah, meu nenúfar. Rododendro e crisântemo e junquilho meus. Meu ciclâmen. Macieira-minha-do-japão. Calceolária minha. Daliabegônia minha. Forsitiaíris tuliparrosa minhas. Violeta… Amor-mais-que-perfeito. Minha urze, Meu cravo-pessoal-de-defunto. Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.

Carlos Drummond de Andrade

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amor em tempos de facebook
há momentos de ficar feliz
outros tantos
de ficar triste
estes com hora marcada
mensagem que não chega
comentário que não vem
post que hoje falha
são pequenos gigantes
estes segundos
entram sob unhas que tocam o teclado
embaçam os olhos
esmagam o coração com crueldade.

Adriana Aneli Costa Lagrasta

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O amor disparado
Pressente-se o perigo
O coração acelera
E ganha vantagem
O médico a chama
Taquicardia
E o cérebro sabe
Daqui pra frente
Quem é que manda.

Adriane Garcia

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Venha confusa, semifusa ou colcheia,
dos gestos bonitos que a vida anda cheia
um sorriso é o que mais tu mereces
e isso eu pediria nas preces
se alguma eu fizesse.

Arnaldo Sisson

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E se eu me atirasse a teus pés,
erguesse muros ao redor de meus olhos
jogasse fagulhas onde as aves as vezes repousam
e fizesse cinza ali onde é verde,
seria melhor?
E se o breu sobre a sombra
fosse o fundo do emblema, meu sinal no escudo,
uma flor sem perfume e cores nem uma,
um borrão entre lindas figuras,
seria melhor?

Arnaldo Sisson

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Amor sem retóricas

Ele não
Lhe diz
Eu te amo

Diz apenas
Que ela entrou
Em seu sangue
Ela espera
A trindade
Das palavras
Lamenta a morada
Nas veias do homem
De quem deseja o coração
Ele insiste
Ela desiste
Casa e tem filhos
Com o homem que
Lhe disse eu te amo.
Nas tênues veias
De sua memória
Corre o sangue
Do homem que
Mais amou, mas
Que não
Lhe disse
Eu te amo.

TaniaContreiras Arteterapeuta

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O maior amor do mundo

Barra Funda
se confunde
com meu sopro:
Terminais intermináveis
Cama, violão, pingado
Chuva, cigarro, trocado
Pulo, em certo ponto.
Viaduto, cigana, destino
“Praça, Aurora, menino
A vidente então me diz:
-Amor igual a esse eu nunca vi.
Então eu quis cantar pra você…
Barra Funda
me confunde com seu manto.
Pronto, o que foi dito
Exato, errado, mal escrito
Parto, pra alguém que mal vivi.
Vivo, pra voltar o que senti.
Barra Funda
se confunde
com a nuca:
Desce pelas costas
das mulheres
Entra pelas vias
mais terrestres
Se agarra onde a mão
tem mais virtudes
Desalinha pelas portas
mais confusas
Os amantes que já foram
embarcados

Luciane Lopes

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De amor e de verbo

Para Rogerio Leone

À noite, o silêncio em tudo,
a inspiração em asas no céu
vejo fotos do passado, sem luto
os livros que você me deu
há um aconchego nas páginas
amarelas e às traças
um jeito bom de estar em casa
entre seu amor e palavras
as bethânias dores do poeta
arrebatam meu coração
sentimental eu sou em oferta

Fabíola Mazzini Leone

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CURA

Nego-te morrer-te em mim
Ainda que morto,
Sem mim, viva
Pleno e feliz

Necessito-te como antídoto
Que me cura de mim mesma
Desejo-te como o sedento
Anseia por águas fartas

Nego-te morrer-te em mim
Pois de mim és seiva
Aquele que me acolhe
Eterno, terno, eterno.

Monica Martins

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máximo de nós

a paixão e a arte
nos salvam do desastre
de resistir
aos eclipses
que transitam em nós

amar
é o máximo
da capacidade
de devorar a nós mesmos.

Lourença Lou

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Na_moradores

moro em mim
e percebo tão melhor
quando tu me namoras

moras em ti
mas se eu não te namoro
morres sem saber de mim
e mais um pouco de ti

somos duas moradas
e tantas vezes
uma só
de risos e dores
minutos ou décadas
antes de voltarmos
ao pó

Chris Herrmann

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NAMORAR : A GRANDE ARTE
DOS MANDAMENTOS SEM LEI

Quero-te toda de todas as formas
Que nunca imaginei
Fazer-te uma obra de arte

Parte por parte
Com o pincel dos meus olhos
No passado emoldurado
Um presente do futuro pintar-te

Quero-te toda aceito o sofrimento
Sou até as mulheres de Atenas por ti
E peço a um bem-te-vi
Para curar as minhas penas
Pois da ultima vez mal te vi

Quero-te toda
Ser Homero com a língua ao léu
Para afogar no ventre do teu mar
E molhar a Odisséia do céu da tua boca
Com versos da paixão mais louca

Quero-te toda
Fria ou romântica ,vazia ou completa
Difícil fórmula de física quântica
Calor nos meus braços de poeta
Quero-te toda depravada ou fiel
Com barba nas axilas
Com gosto de sal e mel
Com beleza mortal
Que fere as minhas pupilas
Com lâmina de punhal
Riso rasgado de rimas
Que bagunça minha anima

Quero -te toda porque te amo
Além de todas as coisas da terra -universo
Dos planetas que orbitam em torno de ti
Sem ninguém saber que na ultima estrela
No regresso de mim, sozinho eu te vi

Não sei qual o teu nome
Só a fome que sinto por ti
Nem sei se tu existes
Só sei que quando somes
Tudo fica mais triste
Quero -te tanto
Pátria minha

Ladainha e pranto
Solo sagrado
Namorada Alvorada
Ilusão sempre vã
Feito sonhos sem manhã

Quero-te toda
Feito Adão e Eva
Romeu e Julieta
Porque a luz cega
Quando a paixão chega

Quero-te toda
Penetrar em tuas águas profundas
Teu farol de sol ser minha bússola
Redescobri a ultima viagem
Dos Portugueses sem Deuses
Só com braçadas de louca coragem

Quero -te toda
Zombando dos meus erros
Eu satisfazendo as tuas manias
Puxando -me pelos cabelos
Eu enchendo a tua cara rsrsrs , de Alegrias

Quero-te toda
Para tecer vestidos de eternidade
Com os fios e pelos da tua intimidade
Quero ser teu gigante
Quando num cruel instante, tu sofreres
E acender o teu caminho ,
Levar teu passo adiante
Quando na chama do breu
De novo saber querer te veres

Quero- te toda
Que nenhuma lei nem rei
Poderá proibir as nossas loucuras
Que nenhum mandamento
Cassará o sentimento
Dos nossos pecados de ALMA PURA

Quero -te toda
Que paro o carro sem sinal vermelho
Na memória tiro sarros
Ao lembrar de cada vez
Da tua incrível nudez
Diante do espelho
As minhas pernas tremem
Entre as tuas coxas sempre novas
E um louco arrepio vem
Quando também dentro de mim
Sem fim, deliras e gozas

Quero-te toda
Que jorro as minhas fontes
No verde azul lilás dos teus horizontes
Onde rego mais as tuas pétalas rosas
Quero -te toda
De tanto encanto por todo canto
De ponto a ponto , tonto de bem querer
Que o resto se foda
E o mundo exploda de prazer.

Paulo George