Em escuta telefônica, Vanio Presa diz que “todo mundo vai usufruir do governo”

Conversa interceptada pela Justiça indica uso de caixa 2 na campanha de Appolo

Entre as provas que constam no processo que apura irregularidades na campanha do prefeito eleito de Alvorada, José Arno Appolo do Amaral (PMDB), e de seu vice, Valter Slayfer, (PDT) há escutas telefônicas com autorização da Justiça.

Em um dos trechos captados, o vereador Vanio Presa (PMDB) indica que fez doações para a campanha de Appolo das quais não constam na prestação de contas declarada pelo candidato à Justiça Eleitoral.

Na conversa, interceptada entre Vanio e um homem identificado apenas como Márcio, o vereador cobra o apoio financeiro de outros políticos já que, segundo ele, “todo mundo vai usufruir do governo”.

Confira a transcrição da conversa ao final da matéria.

Para o juiz eleitoral Roberto Coutinho Borba, que determinou a suspensão da diplomação de Appolo e Valter, a conversa indica pelo menos duas irregularidades: o uso de caixa 2 na campanha e a utilização da pizzaria de Vanio Presa para lavagem de dinheiro.

Para sustentar sua decisão de suspender a diplomação, o magistrado cita o secretário da Fazenda do Governo Sartori, Giovani Feltes (PMDB), que nesta semana teve divulgado trechos de uma palestra em Carlos Barbosa onde afirma que “anjo não se elege”, em alusão ao uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais.

A ligação telefônica onde Vanio confirma ter feito o repasse para a campanha foi interceptada no dia 25 de agosto. Para a Justiça Eleitoral a doação declarada em nome de Vanio foi de R$ 9,3 mil e ocorreu no dia seguinte a conversa, em 26 de agosto. Para o juiz, “apurou-se claramente as irregularidades” já que além de não ser declarada, a doação também não poderia ser feita nestes valores devido a renda declarada do doador.

Doações feitas pelo próprio Appolo em dinheiro em espécie também são classificadas pelo juiz como irregulares. Segundo o magistrado, levando-se em consideração os ganhos salariais do então candidato a prefeito em agosto e setembro e os valores declarados em conta corrente pessoal à Justiça Eleitoral antes do pleito, a doação de R$ 90.479,00 não seria possível.

Confira os trechos da conversa telefônica:

Vanio Presa: Mas é a falta de grana, né Márcio? Falta de grana.

Márcio: E o Valter fez o depósito?

Vanio: Não, confirmou hoje que vai fazer o depósito de vinte, né?

Márcio: Sim.

Vanio: Só que os outros… ah, hoje é… até liguei pro Valter agora, não sei se os caras vão se queixar pra ele, eu peguei os mesmos (presidentes) do partido antes? Ô meu, tem três só botando dinheiro na campanha, vocês vão me desculpar gurizada, não sei se vocês tem ou se vocês vão captar, mas… mas só tem três botando dinheiro na campanha. Não boto mais, eu já to falando pra vocês que eu não vou botar mais, já botei trinta e cinco mil, eu não vou botar mais. Eu não vou tá trabalhando na pizzaria pra botar dinheiro na campanha onde todo mundo vai usufruir do governo? Bá, peguei pesado, né Márcio? Peguei pesado, pra mim acabou. Eu, a minha cota pra colocar nessa eleição acabou, eu não coloco mais, cara. Porque se todo mundo tiver o mesmo compromisso que eu to tendo… eu não sou candidato.

Márcio: Pois é.

Vanio: Eu não sendo candidato, to fazendo isso, eu quero que os outros no mínimo… não precisa fazer igual eu to fazendo, mais tem que ajudar. Bá, peguei pesado com ele. Bá, peguei pesado.

Fonte: O Alvoradense