Na coluna de hoje, peço permissão ao colega Marcito Luz para falar de Educação e Escola Pública.

Abro este espaço para homenagear essa grande educadora que foi Maria Glasfira Monroe Kurtz e que, desde o último domingo (26), recebeu a honraria de ter seu nome dado à primeira escola municipal de educação infantil, a Professora Glasfira Monroe Kurtz.
Que nossas crianças encontrem na EMEI, com o nome da “Glas“, o mesmo carinho que inúmeras gerações receberam desta ilustre homenageada.

Abaixo, uma homenagem escrita por Diego Kurtz, filho de Glasfira, lido na inauguração da escola que levou o nome da professora:

Glasfira e os filhos Lenon e Diego Kurtz | Foto: Arquivo Pessoal
Glasfira e os filhos Lenon e Diego Kurtz | Foto: Arquivo Pessoal
O dia que mamãe virou escola
Por Diego Kurtz
Mamãe sempre foi inquieta. Adorava miudezas e miniaturas de coisas e de gente. Sim. Minha mãe viveu de miudezas. De gente miúda. De crianças. Das crianças. Para as crianças. Criança sempre. Do princípio ao fim. Dos alunos aos netos.
Adorava preto. Arroz com leite, maria mole, sagu com creme, bolo, rosca de polvilho. Café com leite, sopa e chocolate quente. Tudo bem quente. Com ela não tinha essa de morno. Ou era quente ou frio. Mergulhava de cabeça nas suas escolhas. Fazia o seu melhor em tudo.
Adorava cozinhar, sonhar, imaginar, fantasiar… Vestir os outros com suas fantasias. Fazer das dos outros as dela. Não era consumista. Seu guarda-roupa era modesto, de poucas peças. Porém, adorava arrecadar roupas e calçados de outros para vestir e calçar um outro ou outra. Tudo muito simples. Simples como dar a mão pra brincar de roda sabe? , outra brincadeira que ela adorava. Haaaa… e como ela fez girar a vida de tantos que nas mãos dela puderam tocar…
Era vaidosa. Não saia de casa sem fazer um “risquino no olho”, como ela sempre dizia.
Tinha escuta sensível. Costurava sonhos. Incentivava. E quando percebia que alguém esmorecia diante de algum desafio arrebatava com a famosa frase “Acalente um grande sonho tão grandioso quanto o céu”.
Vibrava com as conquistas dos ex-alunos como se fossem filhos. Guardava capa de jornais com datas que julgava memoráveis. Como dos dias que Alvorada elegeu sua primeira prefeita e o Brasil sua primeira presidenta. Tinha caderno pra tudo e resposta pra quase tudo. Ninguém se afastava dela sem uma última recomendação.
Um até logo, parecia sempre um adeus.
Tinha pressa também. Fazia o dia ter as horas que ela quisesse. Trabalhou vinte, quarenta, sessenta horas. Como tantas mulheres do seu tempo, sobreviveu a jornada de ser professora, mãe e esposa, sem máquina de lavar. Mamãe era uma máquina de criar. Adorava retalhos. Juntar coisas pra transformar em outras. Juntar gente, pra fazer tantos outros contentes. Mamãe virou escola porque numa escola tem que ter tudo isso que ela foi. Que ela fez.
Virou escola porque teve uma vida de pinta e borda, recorta e cola, bota Tira. Sim! Tira, Magra, Glas, Glasfira. Com nome tão diferente, tão singular só podia se tornar um lugar. Colecionadora de frases e palavras, anotava em qualquer papel. Sempre tudo com muita amorosidade. Por amor, mudou até de cor. Nasceu colorada e morreu tricolor.
Mas os educadores não morrem. Revivem na gente que fica. Renascem em cada Escola que se edifica. Então: Bem vinda neste novo formato Glasfira. Que o amor que semeaste por esta cidade renasça em cada canto deste lugar. Em cada criança que vier aqui se encontrar contigo para ser feliz outra vez!”