Faltou diálogo, sobraram problemas

Sima ficou acampado durante toda a semana em frente à prefeitura | Foto: Jonathas Costa/OA
Sima ficou acampado durante toda a semana em frente à prefeitura | Foto: Jonathas Costa/OA

A greve dos servidores municipais de Alvorada afetou em cheio a rotina de milhares de alvoradenses ao longo da semana. Ao encontrar escolas sem professores e postos de saúde fechados, parte da população ficou à mercê de uma briga que parece estar longo do fim. Mesmo com a greve anunciada desde o dia 24 de abril, até o momento nenhum representante do governo recebeu os sindicalistas. A prefeitura fala em “rompimento de acordo”, os grevistas em “intransigência”. Enquanto isso, 60% das doses de vacina contra a gripe que deveriam ter sido aplicadas na população até este sábado estão guardadas nos postos de saúde, já que em muitos deles não há enfermeiros para aplicá-las.

Patrícia Daniele Santos acordou cedo na segunda-feira para levar o filho para a escola. A bordo de um Chevette azul, a mãe saiu da Vila Elza, na zola Leste da cidade, nas primeiras horas da manhã para fazer com que o filho chegasse à escola Alfredo José Justo, a maior da cidade, no horário de costume. Ao se aproximar do portão, no entanto, soube do tempo que havia perdido. “Qual o professor?”, perguntava uma funcionária debruçada por entre as grades, utilizando o próprio corpo para trancar a passagem. As crianças iam então enumerando as aulas daquela manhã. “Esse não veio. Esse também não. Esse tá de greve”, respondia. Alguns alunos mais distraídos abriam a mochila do lado de fora da escola, pegavam o caderno e checavam as aulas que deveriam assistir naquela manhã, quase sempre à toa, já que apenas três professores estavam em sala de aula. A cena de repetiu ao longo da semana em muitos portões das instituições de ensino municipais.

Enquanto o governo insistia em não receber os grevistas, o movimento ia ganhando corpo. Escolas que na segunda-feira funcionaram com quase 100% dos professores e funcionários, na quarta já estavam com atendimento parcial. Houve também quem voltasse ao trabalho, o que impediu tanto o Sindicato dos Servidores Municipais de Alvorada (Sima) quanto à prefeitura de apurar um número fidedigno do alcance da mobilização. Para a população, contudo, o prejuízo de encontrar postos de saúde sem enfermeiros ou escolas sem professores foi inegável e igualmente incalculável.

Na tentativa de minimizar os problemas, a prefeitura anunciou na sexta que a campanha de vacinação em Alvorada será prorrogada até o dia 23 de março.

Centenas de servidores realizaram uma caminhada iluminada na quarta-feira pele avenida Presidente Getúlio Vargas | Foto: Jonathas Costa/OA
Centenas de servidores realizaram uma caminhada iluminada na quarta-feira pele avenida Presidente Getúlio Vargas | Foto: Jonathas Costa/OA

Guerra de versões
O piquete montado no Largo Leonel Brizola, em frente à sede da prefeitura, acabou inchado ao longo da semana por alguns movimentos estudantis e figuras políticas de oposição. Para o governo, foi um sinal de que a greve tinha outros interesses. Pelas redes sociais circularam imagens de um carro estacionado ao lado dos grevistas com o porta-malas repleto de latas de cerveja. Publicadas por integrantes da própria prefeitura, as fotos foram como lenhas na fogueira. Enquanto o governo se apropriava do discurso de “interesses políticos” à greve, os simpatizantes do movimento questionavam o que chamaram de “tentativa de desmoralização”. “Quanto o Partido dos Trabalhadores lutou contra o estigma de que Olívio e Lula eram alcoólatras?”, questionou um militante do próprio partido acampado junto aos servidores.

Prefeito passou a semana na secretaria de Saúde | Foto: Jonathas Costa/OA
Prefeito passou a semana na secretaria de Saúde | Foto: Jonathas Costa/OA

Base estremecida
Ao deflagrar a paralisação, o Sima esquentou ainda mais o clima de tensão na Câmara de Vereadores. Nem mesmo dentro do próprio partido à frente do Executivo há consenso. Na quinta-feira uma nota foi redigida em apoio aos servidores e pedindo à prefeitura que “reabra imediatamente as negociações salariais, valorizando o diálogo como forma de solução do atual impasse”. O documento foi assinado por 13 dos 17 vereadores. Apenas os petistas Jackson do Hospital, Juliano Marinho, Leandro Tur e Marcelo Gonçalves não deram coro ao texto, mesmo o governo tendo construído uma base sólida no Legislativo. Schumacher (PT), no entanto, não só assinou como tem participado desde segunda-feira das caminhadas realizadas pelos grevistas.

Um dia após o documento ser divulgado, coube a Juliano Marinho retratar os colegas da base que apoiam o governo. “Foi uma atitude infeliz. Alguns vereadores autorizaram a inclusão do nome imaginando que o teor seria outro”, garante o petista. “Estamos muito afinados e não há crise”, reiterou. No texto da nota divulgada pela executiva do partido o PT afirma que a greve “está sendo aproveitada por oportunistas, que não tem interesse de fazer avançar os direitos dos municipários, para tornar esta mobilização num palanque eleitoreiro”.

O governo ainda procura uma solução que dê fim à greve sem deixar que o sindicato saia com o discurso de vitória. Já é cogitada a possibilidade de uma ação na Justiça para garantir o mínimo de atendimento. Enquanto não surge uma opção plausível, o prefeito segue despachando do novo prédio da secretaria da Saúde, localizado no bairro Bela Vista. Desde segunda-feira Serginho não vai até a prefeitura para evitar um confronto direto com os servidores. Janete Conzatti, à frente da pasta da Saúde e alvo desde o ano passado das críticas mais pesadas do sindicato, não só foi ao Largo Leonel Brizola como mandou “beijinho no ombro” em respostas às vaias que recebeu.

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Fonte: Jonathas Costa / O Alvoradense